Como prisioneiros praticam Mindfulness em meio ao caos
Diminua a distância entre a vida cotidiana e a meditação com esta prática de atenção plena adaptada para detentos em regime de segurança máxima.
Uma prisão de segurança máxima não é o lugar mais favorável para começar a prática de atenção plena. Os lugares são sempre barulhentos com sons ambientes que incluem conversas, gritos, correntes chacoalhando, portas batendo... mesmo durante a noite. Além disso, os horários das prisões não se adaptam às necessidades dos internos, e os companheiros de cela podem menosprezar a prática, dificultando que um recluso encontre 20 minutos sem interrupção para sentar e estar atento à respiração.
Na prisão de Folsom, na Califórnia, eu ensino uma variedade de práticas de atenção plena que evoluíram para permitir flexibilidade suficiente para os homens com quem trabalho desenvolverem a prática e cultivarem a consciência plena da mente que lhes é possível.
Uma das práticas mais bem sucedidas é o que eu chamo de Viagem de Três Respirações. É uma prática que os homens podem fazer a qualquer hora, em qualquer lugar, sem adotar uma postura de meditação ou até mesmo fechar os olhos. Veja como é feito a Viagem de Três Respirações :
Ancore-se no seu momento. A qualquer momento, em qualquer lugar, quando você se lembrar de fazê-lo, traga sua atenção para as sensações internas das três respirações consecutivas.
Desloque o seu foco para longe daquilo que é externo. Pois isso não está ocorrendo em um ambiente calmo onde o corpo ainda se encontra, você precisará tirar o foco primário de sua atenção de qualquer atividade que você ainda esteja fazendo e sentir as sensações físicas da respiração expandindo e contraindo. Você pode sentir isso em seu tronco (seu peito e sua barriga), em seu nariz enquanto o ar se move dentro e fora de suas narinas, mesmo o som do ar que se desloca para dentro e para fora pode se tornar uma âncora. (Não tente isso enquanto muda de faixa de trânsito!)
Deixe sua respiração fluir naturalmente. Uma vez que o corpo está sempre respirando por conta própria, deixe o corpo fazer o que faz naturalmente e simplesmente observe / sinta o que já está acontecendo - respiração – através de três respirações consecutivas.
Esteja presente, mas não se perca em seu entorno. Você não precisa perder de vista o que está acontecendo ao seu redor, mas se você mantiver o máximo possível de atenção na sensação da respiração, há uma oportunidade para cada sucessiva respiração se tornar cada vez mais vívida.
Tome nota de como você se sentiu. Após a terceira respiração, você pode retomar sua atividade contínua e tomar nota de qualquer mudança que tenha ocorrido em sua experiência.
Como a viagem de três respirações mudou a prática de atenção plena para os prisioneiros
Na primeira vez em que propus essa prática a um grupo de homens, sugeri que tentassem três ou quatro vezes por dia, se pudessem. Quando voltei, uma semana depois, um dos homens relatou que ele estava fazendo isso 50-60 vezes por dia. O que ocorreu foi que cada vez que havia uma pausa para o comercial na TV, ele fazia a Viagem de Três Respirações.
Isso era invisível para seu companheiro de cela, e não exigia nenhuma preparação. Ele disse que achou a terceira respiração particularmente doce. Semanas depois, isso se tornara sua prática primária, e ele decidira perseguir a prática mais seriamente porque estava vendo efeitos notáveis em sua vida diária.
Um dos benefícios desta prática não convencional é que ela não separa a meditação da vida do dia a dia. Voltar à respiração dezenas de vezes durante o dia é retornar para o momento presente ao longo do dia. Os homens que praticam a Viagem de Três Respirações descobriram que ela lhes proporciona benefícios substanciais em um ambiente desafiador.
"Um dos benefícios desta prática não convencional é que ela não separa a meditação da vida do dia a dia."
Sua experiência me inspirou a fazer, eu mesmo, um maior uso da Viagem de Três Respirações. Agora, quando eu paro em uma luz vermelha, entro em um elevador, ou agarro a maçaneta da porta quando estou em meu caminho para rua, pela manhã - e em qualquer outro momento que isso passa pela minha mente durante o dia – eu volto a minha atenção para a sensação da minha respiração. Eu não mudo minha postura, interrompo meu movimento ou fecho meus olhos.
A Viagem de Três Respirações pode ser um adjunto poderoso à prática de meditação regular ou, como alguns dos homens descobriram, ela pode constituir uma prática plena em si mesma.
Eu certamente não estou defendendo a tese de que a A Viagem de Três Respirações seja o que deve ser a Mindfulness, contudo estou voltando para o momento presente com mais frequência do que antes, e há cada vez menos distinção entre a meditação e a minha vida diária.
Ler o artigo original em inglês: http://www.mindful.org/prisoners-practice-mindfulness-amidst-chaos/