Mindfulness para cessar o comportamento de vício
Parte da minha prática inclui treinamento de mindfulness e meditação para pessoas com uso abusivo de substâncias e problemas de saúde mental. As características de um vícios incluem a incapacidade de interromper a cadeia de nossos próprios pensamentos, os sentimentos que se originam destes pensamentos e as seguintes ações/comportamentos:
Uma cadeia contínua que leva nosso funcionamento ao vício pensamento… sentimento… comportamento… pensamento… sentimento… comportamento… pensamento… sentimento… comportamento… pensamento… sentimento… comportamento
Eu poderia continuar...trata-se de uma longa e cansativa cadeia gerando a energia que nos deixa presos às nossas circunstâncias. A cadeia inclui pequenas conexões de euforia ou instantes de gratificação pela ilusão da mudança, e alguns momentos reais de alívio seguidos de instantes mais demorados de conexões profundas de depressão, como se as coisas nunca fossem mudar. Há um certo conforto no desconforto de toda essa situação. É familiar. Sabemos disso, sobre como proceder e o que esperar, ainda que seja horrível, desta corrente motriz. E é por isso que pode ser bastante difícil romper com esta corrente, mesmo que por um curto período de tempo.
"A incapacidade de interromper a cadeia de nossos próprios pensamentos,
os sentimentos que se originam destes pensamentos "
O treinamento de Mindfulness, o conceito de observar-nos a nós mesmos e ao mundo à nossa volta sem nos fixar ou nos engajar a qualquer pensamento e sentimento sobre essas observações é difícil.
Mesmo sendo difícil, um breve momento de consciência plena (mindfulness) com a intenção de ser bem sucedida pode ser fortalecedor. Um “tapinha nas costas” ou um “Eu consigo” marca o início de um caminho de crescimento e redescobrimento.
Ops, quase me esqueci da questão da respiração. Tão simples quanto possa parecer, as pessoas irão parar de respirar em momentos de stress ou respirar de forma mais acelerada; o que servirá apenas para acelerar o stress, o pânico e o comportamento automático. Inspire e expire; a respiração abdominal, como alguns a chamam. Isso nos introduzirá a um momento mais calmo, que virá a seguir.
OK, programe seu alarme para 1 minuto...vamos, você pode fazer isso!
Ou você pode apenas observar de relance o relógio na parede. Entretanto, não retenha sua atenção mais do que o necessário a ele. Isso o levaria a declinar ao propósito do exercício, pois você apenas gastaria 1 minuto olhando ao relógio de forma descuidada….tempo perdido! A questão é ser capaz de permanecer no presente, liberando-se de qualquer pensamento, coisa, evento ou atitude durante 60 minutos. É óbvio que alguns pensamentos surgirão em sua mente. Deixe que venham, reconheça-os e deixe-os ir uma vez e, então, volte ao presente. Não permita um segundo pensamento sobre o que quer que seja. Pode ser que você escute um som ou um ruído prazeroso ou irritante. Note o som, o prazer ou a irritação, e então deixe que estes sentimentos se afastem e, imediatamente, retorne a esses 60 segundos de distanciamento de seu ego. Pode ser que você observe alguém o reparando. Note este fato, mas não siga na direção deste pensamento sobre o que esta pessoa está pensando ou sobre como você se sente com isso. Não ceda à qualquer observação envolvendo-se com o que está percebendo. Compreende o sentido?
Qual é o sentido, Dr. I?
Recebo situações como esta em sessões de grupo, com frequência. A questão é que, quando bem sucedido, este 1 minuto de entendimento, de quebra da corrente, nos encoraja a acreditar que podemos ainda mais, que temos escolha e que não precisamos, necessariamente, estar predestinados à qualquer viagem genética ou imposição ambiental que nos tenha sido feita; que podemos impedir a “mente-macaco” dos pensamentos caóticos e frenéticos; que podemos sobreviver ao poder momentâneo do desespero e, ao contrário, observar o ocorrido e o sentimento que possa surgir sem que isso se transforme, automaticamente, num comportamento. Este minuto de entendimento, de controle, pode ser um momento incrível de relaxamento e liberdade para aqueles que se sentiram como escravos sem esperança, saturados e exaustos com a contínua corrida na roda giratória do ratinho da redundância.
Se torna mais difícil!
Outro comentário que costumo ouvir dos pacientes que completam com êxito esta prática do minuto de entendimento é: Dr. Lusson, isso é bem difícil! Geralmente eu dou uma risada e digo “Então pensou que seria fácil?”
Pode ser que não haja nada mais difícil do que mudar. Até mesmo a mais ínfima mudança da contemplação da mudança pode ser assustadora e trazer consigo outras fontes de ansiedades quando sairmos da roda. Quebre a corrente, aguarde, observe e mova-se conscientemente, com alegria e entusiasmo na direção do que virá a seguir.
Mas isto é um tema para uma próxima oportunidade.
Dr. Robert Lusson é psicólogo clínico, atualmente reside e trabalha em Los Angeles, Ca.
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